Boas!
Em primeiro lugar, peço desculpa por desenterrar este tópico já muito antigo, mas senti a necessidade de explicar algumas das coisas que aqui foram ditas.
Quero deixar bem claro que não tenho qualquer ligação à indústria da aquicultura enquanto negociante, mas apenas enquanto investigador ligado à área da Patologia.
Como qualquer um de vós, gosto de pescar (apesar de o fazer há muito pouco tempo) e gosto de peixe selvagem. No entanto, não tenho qualquer problema em comer peixe de cativeiro.
Efetivamente, e como foi dito num post anterior, antigamente não havia qualquer tipo de legislação ou controlo sobre o peixe produzido em aquicultura. Foram feitas autenticas monstruosidades, especialmente por gente que não tinha qualquer conhecimento científico. De há uns anos para cá, a legislação (especialmente a nível europeu) tornou-se ampla e bem definida. De tal maneira, que é, agora, muito mais rigorosa e restritiva que a legislação, por exemplo, para a suinicultura ou avicultura. Como exemplo, tratamentos usados antigamente como o verde de malaquite (contra parasitas) ou antibioterapia são agora proibidos.
O antibiotico é, neste momento, a última solução a ser usada, sempre em tanques com sistema próprio e fechado (para a àgua poder ser tratada antes de voltar para o rio/mar) e em doses muito menores do que era antigamente. Esta solução necessita de monitorização e autorização veterinária, já que é feito antes da prescrição um antibiograma para se saber qual o antibiótico específico a utilizar, e os peixes sujeitos a este tratamento, ficam obrigados a um largo período de tempo de quarentena, já que é proibido qualquer rasto de antibiotico no peixe que entra no mercado.
Com toda a investigação que foi feita, observou-se que a vacinação e a precaução eram as melhores soluções para qualquer doença que pudesse aparecer.
Neste momento, os tratamentos mais usados na aquicultura de água salgada são, por exemplo, no caso de parasitas, o choque osmótico (os peixes são mergulhados durante uns segundos em água doce) ou tratamento com peróxido de hidrogénio (a comum água oxigenada), sendo esta eficaz contra parasitas, fungo e até bactérias.
A alimentação dos peixes foi, e é, alvo de grande investigação a nível mundial. Se antigamente era no sentido de arranjar o melhor equilíbrio nutricional para os peixes (ainda estão em estudo para algumas espécies, principalmente para as planas), hoje em dia o grande foco da investigação é a tentativa de substituição de aminoácidos animais por aminoácidos vegetais. De qualquer maneira, em nenhuma alimentação, há qualquer vestígio de antibióticos, sejam eles de que natureza forem. Até porque se os houvesse, com a ingestão contínua, os peixes desenvolveriam resistências à substância ativa, perdendo, assim, o seu efeito se ou quando fosse necessária. Se alguém usou este tipo de tratamento, efetivamente, não sabia o que estava a fazer!
Em suma, o peixe de aquicultura, a nível sanitário, chega ao mercado com uma qualidade excepcional.
Em relação à diferença entre peixe selvagem e de aquicultura, ela não é assim tão evidente como foi aqui dito. Se, para a aquicultura intensiva (feita em grandes jaulas, com cargas de peixe extremamente elevadas e apenas com alimentação fornecida), é realmente evidente, por exemplo, a falta da mancha dourada na dourada ou até as escamas, para a aquicultura semi-extensiva ou extensiva (habitualmente feitas em tanques de terra), já quase não é possível distinguir, já que, como as cargas de peixe são muito menores e os peixes, alem da alimentação fornecida, têm acesso a alimentação natural, tanto a nível de côr como os dentes são, em tudo, idênticos aos selvagens.
A uniformidade de tamanho será sempre a melhor maneira de identificar se o peixe é proveniente de aquicultura ou não. Já agora, esta uniformidade de tamanho, deve-se ao facto que desde (e principalmente) juvenis, os peixes são triados/calibrados, separando-se o peixe por tamanho em tanques distintos. Isto deve-se ao facto de que os peixes, tal como os mamíferos, têm ritmos de crescimento diferentes e, deste modo, evita-se que os maiores comam os mais pequenos.
Por último, e em relação ao sabor do peixe, é natural que haja diferentes opiniões. No entanto, é a gordura do peixe que lhe confere o sabor. O peixe de aquicultura é um peixe que gasta menos energia a nadar do que o peixe selvagem, daí ser sempre mais gordo. Ora, é nesta gordura que estão os ácidos gordos polinsaturados (os omega3 e omega6) dos quais tanto se fala, daí a sardinha e a cavala serem, dos peixes de mar, aqueles que são mais benéficos para a nossa saúde. Como nós não conseguimos sintetizar naturalmente estes ácidos, é, para nós, a alimentação a única fonte. Resultado: no fundo, o peixe de aquicultura acaba por ser mais benéfico para a nossa saúde, já que nos fornece maior quantidade de ácidos gordos polinsaturados.
Já agora, a DECO fez um teste cego. As pessoas provavam 2 peixes cozinhados da mesma forma e tinham de apontar o que mais gostavam. Por incrível que pareça, quando o psicológico não faz das suas, por não haver a sugestão das farinhas na alimentação dos peixes, os resultados foram os seguintes:
Truta: 80% preferiram o sabor dos peixes de aquicultura; 20% de rio
Robalo: 60% preferiram os de aquicultura; 40% de mar
Dourada: 50% preferiram os de aquicultura; 50% de mar
Pregado: 40% preferiram aquicultura; 60% de mar
Como disse mais acima, esta diferença deve-se ao tempo em que as espécies são cultivadas e à investigação feita na sua alimentação, sendo que a truta é cultivada há muito mais tempo que o pregado, que é bastante recente.
Espero ter tirado algumas dúvidas em relação à aquicultura. Não me alongo mais, que já devem estar fartos de me aturar.
Deixo só um vídeo de uma reportagem sobre aquicultura no nosso País muito, mas muito interessante mesmo.
http://www.youtube.com/watch?v=C-xTSEHKNRA
Abraço