Ardentia

Surfcasting / Rockfishing

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"Ardentia"
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Tainhaalgarve
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Ardentia

Mensagem por Tainhaalgarve »

Boas.

Alguem por experiência pode-me dizer se este aspecto tem sentido muita inflência na pesca.

É que eu desde que (re)comecei agora a pescar, em cerca de 15 vezes que fui à pesca apenas em 2 vezes, para além de eu e o meu companheiro de pesca não termos apanhado nada...nem um toque sentimos, sendo que numa das vezes até tinhamos uma certa diversidade de iscos.....e em ambas as duas vezes ao contrário de todas as outras existia ardentia.


Na última vez que fui aconteceu... ....no entanto por vezes ficamos sempre com a ideia que poderia dar a seguir...mas depois de algumas horas...temos que
:boss:
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FILIPEPC
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Re: Ardentia

Mensagem por FILIPEPC »

Boa noite, antes de mais esta opinião dava um filme...e até tenho uns videos em que falo nisso, mas disse tanta asneira, que o pessoal ia ficar danado comigo se os puser aqui...
Vou tentar explicar-te o que me aconteceu, sempre te ris(com o video era mais giro), mas é assim eu sou do Seixal, mas tenho família do Algarve, mais propriamente na Ilha Da Culatra, em Olhão.
Em julho passado, fui após muitas provocações ao meu primo( e depois deste ter levado uma tareia numa pesca aqui na minha zona), convidado por ele a ir a ilha reviver a adolescencia que lá passei e a pescar uns robalos a sério, e umas douradas que era só lá cair a chumbada :hahaha:

O bom do Filipe, mais o seu tio, lá foram ter com os primos, e assim que lá cheguei só queria era ir para a pesca(as recordações do que lá vivi e pesquei eram e são muitas), monto as canas e vou direito à ria, lanço a cana e pimba um robalote, passado uns minutos, pimba, vai uma dourada, também pequena, e durante uns 20 minutos foi sempre a sacar. Depois parou, foram horas, sem um toque, fiquei todo triste, e fui para casa jantar, montei as canas, e à noite fui para o lado do mar... Bem nem um toque, e o mar espectacular...frustrado voltei para casa lá da família. O meu primo estava fora, e só voltou no meu 3 dia lá(dos 5 que passei). todos os dias ia umas 8 horas à pesca, e de dia para dia piorava. no 2º dia 1 robalo de dia, 1 à noite. No 3º dia nada de nada, nem um toque. :grrr: :122:. A minha dia alertou-me para um fenómeno que os pescadores da ilha não tinham ido ao mar porque a água estava em fogo... Eu claro, estive-me nas tintas...
Quando o meu primo me entra em casa, chamei-lhe tudo, e que porcaria era aquela, mas o que se passava, nunca me tinha acontecido tal coisa na ilha da culatra :no2: , e ele ria :hahaha: , eu estava frustado, pensei em tudo, mudei os iscos, corri a ilha toda e nada no 4º dia. Fiquei em tal estado que lhe disse que ia apanhar um peixe desse por onde desse, ao que ele sentado na mesa da cozinha me diz " oh Felipe porque é que achas que eu não fui ao mar? Não vale a pena, ninguem foi ao mar, enquanto a´água estiver assim não apanhas nada. Não vês que a água está ardida?", ao que eu danado, frustrado, em fase de fúria mesmo lhe respondi, "tás a gozar comigo, agora a água está ardida, a água está mas é fo....., se fosses mas é po c...... :pau: ", desculpem mas foi mesmo assim :hahaha: . Imaginem a minha frustração de ter tirado 5 dias no trabalho para ir encher os baldes, porque é o que lá estou habituado, e nada, que desespero. No último dia o meu primo diz-me olha não vais apanhar nada, mas eu vou contigo, sempre estamos os 3 entretidos, e assim foi. Lanço a cana,e sem um único toque durante mais de uma hora, vou tirá-la e vem um molho de limos, nisto ao retirá-los, começo a ver tudo a brilhar, pareciam pirilampos, uma árvore de natal. Durante alguns minutos fiquei a olhar para aqulio, a pensar mas que bichos eram aqueles, e à procura no meio dos limos deles, e nada, e chamo pelo meu primo e o meu tio, para verem aquele espectáculo, ele assim que chegou ao pé de mim responde "tás a ver Felipe, a água está ardida", e só assim me convenci,aquilo parecia fogo, os limos que fui tirando nessa noite eram arvores de natal, um espectaculo só visto. Em tantos anos nunca me tinha sucedido, e sempre que alguem invocava essa ideia, eu ria-me e dizia que eram desculpas esfarrapadas. Precisei de ver, de entender, e hoje tenho mais uma história para contar...Frustrado, mas resignado, voltei para a minha terra, e assim que cheguei a casa montei as canas aqui da zona,e fui dormir, no dia a seguir de madrugada fui direito ao meu local de eleição danado, para deitar fora o stress, e fiz uma pescaria formidável, liguei de lá para o Algarve e disse "Quinito aqui a água não está ardida, 2 a 0" :hahaha: .
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Paulo
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Re: Ardentia

Mensagem por Paulo »

Eu sou posso falar por experiência própria aqui na minha zona.

Faço essa ressalva porque penso que as coisas podem ser diferentes de zona para zona quando esses microorganismos encostam.

1) Como o Filipe conta aqui muita gente nem vai pescar quando o mar tem ardentia.

2) As melhores pescarias que fiz na vida (no verão) foram sempre em dias de ardentia, e muita.

Resumindo, nos pesqueiros que frequento até costuma ser bom a ardentia. Acho no entanto que nem todos os iscos são bons com a ardentia, nomeadamente a sardinha acho que não funciona. Ao contrário de iscadas de anelídeos (de preferência bem iscados - de forma que se mexam). :pay:
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nhicas
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Re: Ardentia

Mensagem por nhicas »

Eu também sou da opinião do Paulo, pois já tive dias em apanhar com ardentia e outros que não apanhava. Os que não apanhava, na sua maioria estava precisamente ao robalo, usando sardinha. Já tive muitas conversas com amigos, e estes também dizem que quando o mar está assim nem sequer pensam em ir pescar, mas o facto é que se apanha peixe, deitando por terra a teoria da ardentia vs peixe.

Não podemos generalizar nem associar os dias que não se apanha ao facto de existir a tal ardentia.

Mas realmente é um acontecimento bem esquisito. Eu já assisti na Jamaica à interacção destes micro-organismos, pois havia uma lagoa em que desaguava um rio e por sua vez entrava o mar, e na junção das águas repletas destes "bichinhos" provocava uma reacção de luz. Cada vez que sacudíamos a água, havia um clarão na água, os peixes quando de movimentavam deixavam um rasto de luz, enfim era um espectáculo nocturno digno de ser visto.
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FILIPEPC
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Re: Ardentia

Mensagem por FILIPEPC »

Xiiii, vocês agora confundiram-me :hummm: :hahaha: , então pode dar peixe, sinceramente fiquei com uma ideia da ardentia, que nem me passava pela cabeça que pudesse dar peixe, lá em baixo, ninguem ia ao mar. Mas aqui na costa da caparica e seixal, nunca apanhei nada disso, e não tenho experiencia no caso, apenas sei que estive 5 dias a dar banho ao casulo,coreano,ganso,ralos,ameijoa, e sardinha. Foi desesperante...
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FILIPEPC
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Re: Ardentia

Mensagem por FILIPEPC »

Foi o que encontrei até agora. Parece ser a explicação técnica, é chato ler tudo, mas aprende-se.

Noctiluca miliaris = Noctiluca scintillans.

Noctiluciphyceae
Classificação científica

Reino: Protista
Filo: Myzozoa
Subfilo: Dinozoa
Infrafilo: Dinoflagellata
Classe: Noctiluciphyceae
Ordem: Noctilucales (Haeckel 1894)

Característica: Bioluminescência

Bioluminescência [(do grego "bios" (vida) e do latim "lumen" (luz)] é a produção e emissão de luz fria por um organismo vivo, como resultado de uma reacção química durante a qual a energia química é transformada em energia luminosa.
Essa reacção ocorre quando o substrato, genericamente denominado luciferina, é oxidada por uma enzima, chamada de luciferase. A molécula de luciferina, quando excitada energéticamente, liberta esse energia química sob a forma de energia luminosa.

Espécie: Noctiluca.

Tamanho: 0.5 to 1.0 mm, up to 3.0 mm.

Reprodução: Assexuada, formam células filhas.

Dieta: Alimentam-se de fitoplâncton e zooplâncton.

Hábitos, estruturas físicas e sociais: A Noctiluca é um dinoflagelado marinho, [(Dinoflagellata - do grego "dinos" – rodopiante) - (flagelos, apêndices locomotores, tipo “pêlos”, que batem no líquido circundante com um movimento geralmente helicoidal.)], um minúsculo microorganismo de forma esférica (medido em micrómetros ou milímetros), coberto de pele espessa, com uma bolsa oral, um flagelo, um dente, e um tentáculo.
Alimenta-se de microorganismos, que fazem parte do fitoplâncton e do zooplâncton, como as algas diatomáceas e ingere a comida pela utilização de um orifício bucal,. As Noctilucas estão imóveis, devido ao flagelo por si só ser incapaz de impulsionar seu corpo através da água: o movimento só é encontrado em rotação da posição vertical por meio de controle de flutuabilidade na célula.


Características Físicas: As Noctilucas : São dinoflagelados unicelulares que podem atingir o tamanho de 1mm. A noctiluca não faz fotossíntese. Actualmente são considerados simplesmente "protistas", (grupo diferenciado das plantas e dos animais).. A característica mais marcante da noctiluca é a sua capacidade de produzir luminescência. A noctiluca produz pequenos flashes de luz através do estímulo produzido pela circulação da água, o que explica porque a noctiluca brilha apenas quando a água é agitada. Uma noctiluca pode não produzir uma luz suficiente para ser percebida pelo aparelho óptico humano no entanto como vivem em grupos de compactas massas, que é responsável pelas cores rosa ou vermelho - mesmo verde ou azul - vistas no mar, especialmente em zona de rebentação. Embora não seja o único dinoflagelado bioluminescente (aproximadamente 2% dos dinoflagelados o são), a noctiluca é, de longe, a mais conhecida. A luminosidade é provocada por uma reacção química. A enzima luciferase catalisa a reacção entre o oxigénio e uma substância chamada luciferina, libertando energia luminosa. Em condições idóneas podem reproduzir-se de forma explosiva, passando de umas poucas células de noctiluca por litro de água de mar a milhões e milhões em cada litro de água de mar. É o que se chama de "Bloom".


Histórias da “Ardentia”

Normalmente o gatilho para a emissão de luz é um estímulo mecânico, como o contacto ou a agitação da água ao seu redor. Para entender por que a noctiluca brilha, podemos compará-la a um carro com alarme. As Noctilucas são predadas por animais que se alimentam de fitoplâncton, como por exemplo, os copépodos (crustáceos de tamanho muito pequeno que fazem parte do zooplâncton). Quando um copépodo (o ladrão) avança sobre uma noctiluca (o carro), a luz ascende (o alarme dispara), o que atrai a atenção de pequenos peixes (os policiais) que se alimentam dos copépodos que estão mais visíveis no ambiente iluminado. Dessa forma, as noctilucas são capazes de diminuir o efeito de predação existente sobre elas.
A noctiluca é um microorganismo muito apreciado e como tal comido pelos camarões. O seu espectáculo de luz não passa despercebido ao predador dos camarões: os chocos.
O mecanismo de defesa do noctiluca começa então a fazer sentido, o choco não consegue encontrar o camarão na escuridão total, o camarão está a salvo se se mantiver imóvel, mesmo com as pupilas dilatadas o choco não consegue ver nada, mas, se o camarão se mexer, o noctiluca brilha e ilumina-o fazendo com que o choco já o veja.
A noctiluca denúncia a presença do camarão, atraindo o choco com os seus raios florescentes, protegendo-se assim do camarão.
O choco, ao caçar o camarão, é aliado do noctiluca. É o jogo do rato e do gato, e o camarão não tem qualquer hipótese: se permanecer imóvel não pode comer a noctiluca e, se se mexer, um rasto brilhante atrai o choco. Para o camarão, caçar a noctiluca constitui um desafio arriscado; o choco ganha uma refeição, mas o verdadeiro vencedor é a noctiluca. Cada camarão eliminado torna a vida mais segura para o minúsculo organismo. O alarme contra ladrões da noctiluca salva-lhe a vida.
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nhicas
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Re: Ardentia

Mensagem por nhicas »

Ena, já vi explicações boas, mas esta supera qualquer uma.

Muitos parabéns pela busca do desconhecido.

=D> =D> =D>
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Paulo
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Re: Ardentia

Mensagem por Paulo »

Boa pesquisa Filipe. :fixe: =D> =D>

Acerca dos 5 dias a "dar banho à minhoca", eu até já estive mais tempo do que isso, com condições teoricamente ideais no pesqueiro ( e sem ardentia ;) ). Acontece que por vezes pura e simplesmente o peixe não está lá, daí a culpar a ardentia, eu pessoalmente não posso culpar, já que foram de longe mais os dias em que apanhei do que gradei quando havia ardentia. :201:
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