Este mar não é para pescadores de fanecas...(parte II)
Enviado: terça dez 30, 2008 10:03 pm
Sopunha eu que após todos estes anos que passaram sob os meus cabelos brancos e gelados de glaceio e neves desfeitas em aguas pingando pelas serras e areias que se cruzam e encontram junto ao mar, que a minha paixão pela pesca seria como os cumes daqueles picos agrestes , isolados e esquecidos sem vegetação que observo...
Apenas ..névoas, humidade e silencio... O resto seria a contemplação depois do crescimento...Mas.. não..
A paixão pela pesca é uma viagem com partida e regresso.Sim.. com regresso , porque tal como a nascente que brota daquela serra agreste e cresce pelas fragas de outras nascentes que alimentam aquele rio , até se encontrarem com o mar, a sua viagem não termina ali . Voltam sempre as suas aguas ao berço de onde nasceram e a sua viagem tal como a minha é sempre de regresso... Nada me comove mais do que o frio da montanha onde pesco para o mar, ou as minhas botas que pisam o areal feito de conchas desfeitas bordejando pequenas poças de água onde me seduz o vento que passa criando pequenas ondas desgastando-se contra a sua própria erosão...
Estou feliz. Nada pesquei hoje, mas aprendi mais sobre mim e os outros que pescam.. Os sargos gigantes que observo, alimentam o meu sonho e dos outros em paragens remotas alimentando-nos com um caldo quente, fervoso, nutrido das suas batatas e vegetais de onde emanam os sabores da serra, acompanhado por um soberbo vinho tinto que cresce na boca em taninos que revelam sabores a framboesas silvestres, nozes e medronhos da mata que circunda a vinha onde foi criado...
A pesca afinal continua a ser a minha paixão. Nesta viagem que escrevo agora depois do regresso, revelo o que aprendi.
Peso o peixe do afortunado pescador desta campanha. A balança digital tremula em incertezas e volteios perante o espanto destes sargos enormes, cujas mãos não conseguem abarcar o seu dorso grosso como um cavaco e largo como uma tábua do forno do padeiro da minha aldeia...
Que soberbos!!! Corro, corro, ofegante na direcção do pescador que grita na noite escura como breu, sob a capa violenta do vento, agreste e cortante que nos quer expulsar daquele lugar... Magia pura!! Os elementos da ordem e desordem, do caos!!! Decifrar a chave pelo olho de um sargo enorme de 2 kgs, que jaz na areia sob o foco da minha luz...Que velho peixe!!! Julgou , talvez, que esta soturnidade o abrigasse dos ollhares da caverna onde habita ao longo da sua vida...Em demandas fugidias ao abrigo da escuridão, comendo belos perceves e mexilhões do seu mar amado até que a madrugada o empurre para dentro da sua solidão...
Amanhece, noutro lugar, já distante daquela noite mágica observo o mar verde esmeralda que surge ao meu olhar... Desço a falésia e penso que mais vale regressar, porque o mar hoje não me vai dar nada daquilo que sonhei da noite anterior...
Um milhafre disputa o lugar em volteios mais serrados perante o olhar assustado da gaivota, daquele intruso que se acerca entre a serra e o mar...
Um barco regressa, a espuma da baixa-mar cai em cascatas sob as perceves de cachos reluzentes e o polvo observa a sombra deste pescador que passa pelo alto da placa xistosa recoberta de lapas e mexilhões endurecidos pela dura sobrevivencia das suas vidas... Regresso, sem fotos para tirar... Julgo que aqueles que me leram até aqui não precisam de outro olhar. Perceberão a razão da minha paixão pela pesca., e se leram até aqui é porque gostam tanto como eu desta viagem apaixonante em que as palavras são as fotos reveladoras da essencia e da razão de sermos pescadores...
Espero que tenham gostado tanto como eu.
Até á proxima viagem.
Ps. Os meus agradecimentos ao pescador Jorge Silva pelos seus ensinamentos na arte de pescar ao pião de correr e pela revelação de novos pesqueiros onde a arte e a montagem especial lhe permitiram em apenas 30 minutos sem engodagem cobrar tres belos sargos, negros como o carvão com mais de um kg cada, um deles roçando o 1,600 kg...
Os meus parabéns aos meus companheiros de pesca pela tonicidade e capacidade de enfrentarem o frio e a neve da montanha. E os meus parabéns ao meu companheiro de pesca , um grande pescador de fundo que com o miraculoso miolo de caranguejo pilado em empate directo no anzol cobrou aqueles sargos gigantes.
A todos os meus parabéns por me permitirem escrever mais uma parte deste artigo que continuará até que a viagem termine...
O meu obrigado
António Simões
Apenas ..névoas, humidade e silencio... O resto seria a contemplação depois do crescimento...Mas.. não..
A paixão pela pesca é uma viagem com partida e regresso.Sim.. com regresso , porque tal como a nascente que brota daquela serra agreste e cresce pelas fragas de outras nascentes que alimentam aquele rio , até se encontrarem com o mar, a sua viagem não termina ali . Voltam sempre as suas aguas ao berço de onde nasceram e a sua viagem tal como a minha é sempre de regresso... Nada me comove mais do que o frio da montanha onde pesco para o mar, ou as minhas botas que pisam o areal feito de conchas desfeitas bordejando pequenas poças de água onde me seduz o vento que passa criando pequenas ondas desgastando-se contra a sua própria erosão...
Estou feliz. Nada pesquei hoje, mas aprendi mais sobre mim e os outros que pescam.. Os sargos gigantes que observo, alimentam o meu sonho e dos outros em paragens remotas alimentando-nos com um caldo quente, fervoso, nutrido das suas batatas e vegetais de onde emanam os sabores da serra, acompanhado por um soberbo vinho tinto que cresce na boca em taninos que revelam sabores a framboesas silvestres, nozes e medronhos da mata que circunda a vinha onde foi criado...
A pesca afinal continua a ser a minha paixão. Nesta viagem que escrevo agora depois do regresso, revelo o que aprendi.
Peso o peixe do afortunado pescador desta campanha. A balança digital tremula em incertezas e volteios perante o espanto destes sargos enormes, cujas mãos não conseguem abarcar o seu dorso grosso como um cavaco e largo como uma tábua do forno do padeiro da minha aldeia...
Que soberbos!!! Corro, corro, ofegante na direcção do pescador que grita na noite escura como breu, sob a capa violenta do vento, agreste e cortante que nos quer expulsar daquele lugar... Magia pura!! Os elementos da ordem e desordem, do caos!!! Decifrar a chave pelo olho de um sargo enorme de 2 kgs, que jaz na areia sob o foco da minha luz...Que velho peixe!!! Julgou , talvez, que esta soturnidade o abrigasse dos ollhares da caverna onde habita ao longo da sua vida...Em demandas fugidias ao abrigo da escuridão, comendo belos perceves e mexilhões do seu mar amado até que a madrugada o empurre para dentro da sua solidão...
Amanhece, noutro lugar, já distante daquela noite mágica observo o mar verde esmeralda que surge ao meu olhar... Desço a falésia e penso que mais vale regressar, porque o mar hoje não me vai dar nada daquilo que sonhei da noite anterior...
Um milhafre disputa o lugar em volteios mais serrados perante o olhar assustado da gaivota, daquele intruso que se acerca entre a serra e o mar...
Um barco regressa, a espuma da baixa-mar cai em cascatas sob as perceves de cachos reluzentes e o polvo observa a sombra deste pescador que passa pelo alto da placa xistosa recoberta de lapas e mexilhões endurecidos pela dura sobrevivencia das suas vidas... Regresso, sem fotos para tirar... Julgo que aqueles que me leram até aqui não precisam de outro olhar. Perceberão a razão da minha paixão pela pesca., e se leram até aqui é porque gostam tanto como eu desta viagem apaixonante em que as palavras são as fotos reveladoras da essencia e da razão de sermos pescadores...
Espero que tenham gostado tanto como eu.
Até á proxima viagem.
Ps. Os meus agradecimentos ao pescador Jorge Silva pelos seus ensinamentos na arte de pescar ao pião de correr e pela revelação de novos pesqueiros onde a arte e a montagem especial lhe permitiram em apenas 30 minutos sem engodagem cobrar tres belos sargos, negros como o carvão com mais de um kg cada, um deles roçando o 1,600 kg...
Os meus parabéns aos meus companheiros de pesca pela tonicidade e capacidade de enfrentarem o frio e a neve da montanha. E os meus parabéns ao meu companheiro de pesca , um grande pescador de fundo que com o miraculoso miolo de caranguejo pilado em empate directo no anzol cobrou aqueles sargos gigantes.
A todos os meus parabéns por me permitirem escrever mais uma parte deste artigo que continuará até que a viagem termine...
O meu obrigado
António Simões