Todos os objectivos da sessão de pesca foram alcançados, e todos os participantes ficaram com vontade de para o ano repetirem a aventura...
Da minha parte a única coisa que posso dizer é que foi tudo fantástico e a APCF está de parabéns por uma organização como esta... pena em Portugal continuarmos a anos luz deste tipo de realidade.... quem sabe um dia!...
Para saberem mais sobre esta Aventura aconselho a comprarem a Revista "O Pescador", onde vem publicada uma reportagem mais alargada sobre a sessão...
Agora as fotos:Pedro Martins - Páscoa Escreveu:NOTAS SOBRE A AVENTURA APCF EM FRANÇA
Obrigado pelos cumprimentos a todos! Para o Ano teremos mais, ou neste ou em outro local qualquer do estrangeiro que proporcione emoções e capturas como as que ficaram para a posterioridade nesta sessão memorável.
Para satisfazer a curiosidade geral e alguns pedidos aqui ficam algumas notas (que não substituem o artigo) sobre os aspectos técnicos da sessão e sobre a pesca em França.
Objectivos da Sessão e das "Aventuras APCF"
Como já dissemos, ninguém se pretendia vangloriar ou auto-proclamar-se "o melhor pescador do mundo ou de Portugal" com esta viagem. Tratava-se de uma espécie de "estágio" e de contacto com novas experiências de pesca, que em Portugal, infelizmente, são muito difíceis de encontrar (salvaguardando poucas excepções).
De qualquer forma, nunca é injusto conceder o devido valor a quem o tem, em Portugal, na APCF e no carp fishing nacional. A experiência francesa e o grande saber do Manuel José foram indispensáveis para garantir o sucesso da sessão, tal como o apoio do nosso amigo de longa data, Mike Verloove e de Nicholas Barrio, que, além da pesca (nós nunca deixámos de reconhecer isso) nos ajudaram com as licenças e aspectos burocráticos.
Se pensarmos que o Manuel José frequenta águas onde as maiores vedetas do carp fishing internacional pescam (os das revistas), águas como Rainbow, em que a entrada é extremamente restrita, onde praticamente só a elite do carp fishing vai pescar, está tudo dito. E com sucesso, com capturas! Aí pratica-se snag fishing (pesca em obstáculos) do mais exigente que existe na Europa, os peixes são esquisitos e não caem com qualquer isco... Está tudo dito...
Estratégia de pesca e engodagem
Quanto a isto, já dissemos o fundamental no artigo e em alguns comentários soltos. Pode-se dizer que o lago, não sendo grande para standards portugueses (grandes barragens de 500 a 1000ha), uma vez que tinha "apenas" 46 hectares de superfície, era já suficientemente amplo para falarmos de carp fishing a longa distância.
No passado não era complicado capturar aqui bons exemplares com métodos de pesca habituais nas águas portuguesas: lançamentos e métodos de engodagem normais.
A pressão de pesca muito sentida neste lago, ao longo dos tempos (em França há talvez mais carpistas numa pequena localidade de província do que em todo o Portugal) foi tornando o local cada vez mais difícil e o peixe cada vez se passou a sentir mais seguro longe da margem, já para não falar dos ruídos decorrentes das actividades que são praticadas no lago (canoagem, etc). O lago é suficientemente amplo para os peixes se afastarem tanto que um lançamento do melhor lançador do mundo não conseguiria chegar lá. Claro que não é impossível fazer capturas a uma distância "acessível" ou mesmo perto da margem, mas as hipóteses diminuem consideravelmente.
Por outro lado, a localização é absolutamente fundamental, às vezes uma diferença de cm pode fazer a diferença. Isto é um factor fundamental no carp fishing moderno.
Eu por acaso até consegui fazer uma pequena captura de 9kg (comum) à distância de um lançamento normal e com as mesmas técnicas de engodagem que uso aqui, ainda por cima com uma cana de 2,5lbs (aliás excelente para lutar com o peixe) e com um carreto pequeno que normalmente só uso para sondagem e que tinha a bobine mal cheia. Dá para ver, tendo em conta as fotos, as características do pesqueiro que facilitaram a minha tarefa. Mas foi apenas uma excepção entre duas, e a cana até já estava esquecida quando tocou...
Calhou-me a mim a árdua tarefa de guardar um pesqueiro, no primeiro dia e noite, para que os colegas que chegavam mais tarde pudessem ter lugar ao lado do grupo, que ocupou praticamente um sector da barragem. No primeiro dia (e mesmo no segundo), quase todos tentaram tirar peixe com estratégias normais de lançamento, sondagem e engodagem (com bait rocket e cobra) mas os resultados foram nulos. Mas, pode-se dizer que fizemos tudo o que esteve ao nosso alcance. REconhemos que não somos grandes lançadores nem pretendemos ser, nem pensamos que isso seja importante no carp fishing moderno.
Penso que nesta altura já não vale a pena esconder o método de engodagem usado, atendendo a comentários que foram proferidos, sem prejuízo de que os conselhos e o auxílio de Mike e do Manuel foram fundamentais para o sucesso. Só não vou revelar o truque do método em pormenor uma vez que foi inventado por Mike Verloove, mas só posso dizer que alia a simplicidade extrema à eficácia. Mas não é para todos.
De qualquer forma, permitam-me que faça um pequeno aparte acerca da pesca à longa distância, e num outro sentido em obstáculos, e dos seus métodos. Quase ninguém na Europa, nem mesmo já em concursos, pratica carp fishing em grandes lagos sem o recurso a barco. A pesca nesses lagos é simplesmente impossível nem que se consiga lançar 200m, uma vez que a distância de pesca está para lá disso ou muito perto disso.
Já para não falar que fazer engodagem a essas distâncias, sem barco, e com bait-rocket, por exemplo, é manifestamente uma impossibilidade física. Nós pudemos constatar isso, sem margem para dúvidas, com recurso à prática e à experiência real.
O lago tinha várias bóias de sinalização para as actividades náuticas lá praticadas que, involuntariamente, eram muito úteis para a marcação dos pesqueiros/profundidades. Sabia-se a distância a que essas bóias estavam, algumas estavam a mais de 200m, outras a 150m. Aí percebemos claramente que há limitações físicas para aquilo que, por exemplo, um bait-rocket cheio de engodo pode atingir.
O lago tinha zonas de grande profundidade mesmo a nossos pés e, em contrapartida, baixios que as carpas frequentavam de dia (obviamente) e de noite mas que estavam, em alguns casos, a mais de 200m. Como os barcos não eram permitidos, não havia outra alternativa senão colocar as montagens e a engodagem a nado. E não revelo mais. Tentámos alugar umas gaivotas para fazer a engodagem mas fomos proibidos pelos funcionários, gestores ou donos do café que os disponibilizava, que pela nossa indumentária perceberam logo os nossos propósitos.
Nos primeiros dias quase todos mostraram relutância em meter-se na água, como é natural, ninguém esperava fazer isso, e não só porque muitos de nós não íamos preparados com um simples fato de banho. E claro que é perigoso mesmo para os que sabem nadar. É prudente não o fazer. Deixo aqui um conselho, não se justifica praticar este método nas águas portuguesas, que permitem o uso de embarcações pequenas, uma vez que com um qualquer barco insuflável ou de borracha pode-se fazer o mesmo ou melhor, de uma forma mais segura e eficaz (e mesmo assim pode ser perigoso em determinadas condições de agitação). Se a pessoa não for um excelente nadador, e absolutamente em forma em termos pulmonares, não deve fazer isto porque podem acontecer acidentes, mesmo em águas paradas, como era o caso.
Mas quando começámos a ver as capturas que o Mike conseguia fazer com este método tivemos que nos adaptar à situação. E não é verdade o que foi dito. Com poucas excepções, o que é perfeitamente natural, quase todos nós acabamos por nos lançar à água e arriscámos um pouco a nossa pele para conseguir uma boa captura. A partir daí as canas começaram a cantar. Perdemos alguns peixes mas outros ficaram na fotografia.
E foi, acima de tudo, uma excelente lição de camaradagem e solidariedade carpista. Todos se ajudaram uns aos outros para que todos os portugueses conseguissem quebrar o seu record em França, que era um dos objectivos da expedição. No que diz respeito às tarefas a nado, então aí nem se fala... Eu fiquei a perceber que apesar do meu aspecto frágil estou em forma e não esqueci as aulas de natação que tive na infância e juventude, a ponto de me chamarem o "swiming boy" da sessão. A adrenalina das grandes carpas deu-me energia e coragem para nadar mais de 200m em algumas vezes... Na primeira vez não foi fácil, até correu mal, mas depois tornou-se fácil... A grande generosidade do Mike também não deve ser esquecida, pois ele ajudou a colocar muitas montagens, para além das dele. Em contrapartida, nós também o ajudamos a ele, e ajudámo-nos sempre uns aos outros.
Quando observámos os excelentes resultados que o Mike atingia, sendo que estávamos a utilizar as mesmas montagens e iscos (iscos caseiros de qualidade feitos por ele, pelo Manuel e Nigel), depressa constatámos que, se queríamos trazer alguma coisa, não havia outra alternativa senão ficar em cuecas e mergulhar. O que vale é que os boxers modernos são muito parecidos com um fato de banho. De vez em quando passavam umas francesas muito simpáticas o que até nos animou mais... E a água até estava boa, ficávamos lavados e frescos.
Quanto às montagens, nada de especial: chumbadas pesadas e com bom poder de fixação, estralhos curtos em entrançado, anzóis pequenos e afiados, lead-core. Nada que já não usemos aqui em Portugal. Nós casos em que tentámos chegar às carpas com bons lançamentos usámos chumbadas apropriadas (torpedo e long-distance).
Havia também a presença de muitos lagostins, bremas e tencas que estragaram alguns lances, mas tirando isso, a sessão foi muito bem sucedida. A técnica da sanduiche de tiger nut já foi referida no artigo.
Outra coisa engraçada é que tinhamos um outro lago mesmo ao lado do lago principal, estávamos numa espécie de península, e podíamos pôr, por exemplo, duas canas num lago e outras duas no outro. Naquele lago podia-se pescar com 4 canas o que é muito útil nestas ocasiões. Quando será que as nossas leis estúpidas deixarão de o ser para o carp fishing.
O que é certo é que não conseguimos tirar nada desse lago mais pequeno, apesar de o Ricardo ter tido um bom arranque, apesar de também haver carpas de mais de 20kg lá.
Estava tudo limpo ao contrário do que se passa em Portugal e ninguém veio pescar para cima de nós quando constatou que os melhores pesqueiros tinham sido ocupados por nós.
Durante a última noite apanhámos uma trovoada e uma chuvada forte mas quando isto passou, como esperávamos, foi "um vê se avias", as canas todas a tocarem, uma grande descarga de adrenalina e alguns records foram conseguidos durante a noite e madrugada do último dia.
Acima de tudo, todos nos divertimos imenso, aprendemos umas grandes lições práticas de carp fishing e de amizade e companheirismo.
France, je t'aime.