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O Antonio era bom pescador...

Enviado: quarta mai 14, 2008 5:01 pm
por JMig
O Antonio era bom pescador, bom pai e um filho extremoso!
Meio século de vida e só uma vez pescou com o Manuel, seu progenitor e companheiro de infortúnio.
O Antonio nunca pescou na praia. Sempre arriscou naquela escarpa que parece encantar e ao mesmo tempo avisar de que nem só o mar nos atraiçoa.
Na primeira pescaria com o Manuel, há muitos anos atrás, foi de mão dada até ao rio e pernas a tremer com a emoção de ser guiado pelo pai como se fosse viajar pelo mundo! Foi um dia magnífico! Os bordalos atiravam-se ao anzol com a sofreguidão da broa de milho feita isco, na sombra do salgueiro meio submerso! Trinta peixes e uma felicidade imensa de entrar na aldeia com eles pendurados num junco.
Aquela vez, seria a segunda.
Pai, sempre vai comigo à pesca?! Agasalhe-se que eu passo aí às oito.
A noite caíra e com ela a neblina típica de alguns dias de Inverno.
O Manuel foi bem agasalhado, embora nenhum agasalho o confortasse das mazelas sofridas por anos de trabalho duro.
As pedras imponentes, marcos para a história, esperavam os incautos.
Pé ante pé, pisaram com cautela a armadilha bem montada. Repentinamente o chão fugiu debaixo dos pés do Antonio como se fosse possível flutuar. Lembra-se de pensar no pai e depois disso só escuro. Bateu desamparado e resvalou até á água como que impulsionado por uma mão misteriosa que lhe pretendia sugar a vida. O Manuel gritou. Antonio, filho, estás bem? Apenas silencio.
As varas e apetrechos adornavam agora a escuridão das pedras e testemunhavam a tragédia. No meio de nada de pouco valia gritar por socorro, pensou. Telemóvel não usava porque eram coisas de gente nova.
Como homem experimentado o Manuel não entrou em pânico, embora o vazio que sentia naquele momento o tenha feito fraquejar. A luz da lanterna pouco alcançava e era preciso descer. Agarrou-se como podia e ao que podia e começou a descer tremulamente. Pensava no Antonio e no orgulho de ser pai. Continuou a chamá-lo na esperança de um murmúrio. Já perto do mar, só um farrapo das calças denunciava a local da queda. Voltou a chamar. Antonio, filho, diz-me que está bem. Por essa altura já as lágrimas se lhe misturavam com o suor do esforço em se manter agarrado á vida. Pareceu-lhe ouvir um gemido. Apontou a lanterna a um buraco esculpido pelo tempo e suspirou de alívio. O Antonio abraçava uma pedra ensanguentada como se agarrasse o futuro. Balbuciou…Pai, estou vivo.
Hoje, pouco tempo passado, o Antonio continua a ser bom pai, um filho extremoso e é muito melhor pescador!

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quarta mai 14, 2008 5:07 pm
por aranha
ainda bem que foi um final feliz, muitos infelizmente terminam da forma que a gente sabe :(

parabens pelo texto =D> =D>

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quarta mai 14, 2008 5:07 pm
por Ramiro
=D>

Uma estória com uma bela moral.

=D>

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quarta mai 14, 2008 6:16 pm
por joaosousa
Ramiro Escreveu:=D>

Uma estória com uma bela moral.

=D>
=D>
Subscrevo :wink:

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quarta mai 14, 2008 7:19 pm
por karva
Viva grande Júlio. Parabéns por mais uma bela história. =D> =D>


Paulo karva

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quinta mai 15, 2008 11:06 am
por domcunha
=D> =D> =D> =D> =D> =D>
Que tal escrever um romance sobre a pesca quem sabe se ainda seria um best seler??
De qualquer maneira é um texto com muita qualidade.
=D> =D> =D> =D>

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quinta mai 15, 2008 2:35 pm
por pisões
Porra Júlio até me arrepiei todo. Ainda bem que tudo acabou bem mas para susto do pobre pai e de quem sofreu a queda chegou.

Parabéns pela escrita =D>

Re: O Antonio era bom pescador...

Enviado: quinta mai 15, 2008 11:44 pm
por Martim_pesca
=D> =D> =D> =D> =D> =D> =D> =D> =D> =D>

Final Feliz.... :D