António, Alexandre e restantes leitores.
Penso que estamos sempre a tempo para mudar de atitude. E se esta mudança, for uma mudança positiva, tanto melhor.
Sou ainda um "miúdo" comparado com muitos de vós. Muitos de nós (eu inclusive) quando começámos nestas andanças da pesca o normal era querermos esconder, não partilhar os segredos, os pesqueiros, os conhecimentos que íamos adquirindo. Sei que infelizmente por vezes somos obrigados a fazê-lo por boas razões, para proteger os locais de pesca dos abusos, porque infelizmente estes ainda são uma realidade. Infelizmente muitos pescadores ainda vêem a pesca apenas pelo acto de capturar peixe, capturar quanto mais melhor, e capturar não interessando a que preço.
Mas depois, por uns pagam os outros. Se ao passarmos os conhecimentos formos e podermos mudar atitudes. Se ao passarmos os conhecimentos acabarmos com os abusos (alguns deles existem porque ninguém chamou à atenção para eles). Se ao passarmos os conhecimentos criarmos pescadores mais responsáveis, penso que vale a pena correr o risco de um ou dois aproveitarem os ensinamentos de uma forma errada.
Por muito que aprendamos sozinhos e à nossa custa, certamente uma grande parte do ensinamento foi conseguido "à custa" da passagem de conhecimentos por parte de outros pescadores mais experientes. Penso que é nossa responsabilidade continuarmos a passar esses ensinamentos, que nos passaram sem pedir nada em troca. Não me vejo com o direito de "esconder" o que me passaram, se tivessem feito isso comigo, certamente saberia menos. Não é por dizer que utilizo a montagem X, que gosto de pescar assim ou assado, desta forma ou daquela, com o mar neste ou naquele estado, que vou ficar mais pobre, que vou apanhar menos peixe. Certamente uns seguirão os meus conselhos, outros utilizarão esses conselhos para misturar com outros conselhos diferentes e com isso tirar novas ideias, que poderão (e deverão) mais tarde partilhar. Outros seguirão outros caminhos, outras vertentes. Seja qual for o caminho, mais pescadores evoluíram, e com eles a própria pesca como um todo. Logo ficámos todos mais ricos.
Além disso devemos aproveitar também para dizer que, respeitem os tamanhos mínimos, sejam pescadores responsáveis, não deixem lixo nos pesqueiros, não mandem lixo para o mar, se não querem o peixe para comer, devolvam-no com vida e em condições, etc, etc. Que certamente ficaremos mais ricos, mais ricos em todos os aspectos.
Somos animais sociais, vivemos em sociedade, não faz sentido que um dos desportos que permite um dos melhores contactos possíveis com a natureza, seja um acto solitário. Poderemos o fazer, mas certamente com amigos o momento ganha mais valor.
Todos os pescadores têm os seus ídolos. Na pesca o normal é admirarmos os pescadores que apanham peixe, os que o fazem com alguma regularidade, os que apanham exemplares acima da média, os pescadores que têm conhecimentos acima da média acerca de material e técnicas de pesca. Todos nós tendemos a seguir as formas de actuar desses pescadores. Por isso compete a esses pescadores fazer a passagem, a passagem dos conhecimentos, mas também a passagem da forma correcta de estar na pesca, a única forma que permitirá que exista peixe em quantidade e qualidade para as gerações futuras. Ou seja a realização de uma pesca cada vez mais responsável.
Por isso admiro grandemente o António, porque passa a mensagem correcta, passa a informação e os seus conhecimentos, como ninguém. Mas, além de passar os conhecimentos de uma forma humilde e sem pedir nada em troca, passa a mensagem correcta.
Em resumo, a pesca é muito mais do que apanhar peixe.
Acho piada, a maioria das pessoas, às quais digo que sou pescador, diz-me:
"Não sei como consegue..."
"Como tem paciência para estar ali à espera do peixe..."
E outras frases do género.... Não percebem, claro, não são pescadores. Tal como aqueles "pescadores" que apenas vão para apanhar peixe, não desfrutam do momento, da envolvente, só querem é quantidade no bornal, não são verdadeiros pescadores, são mais apanhadores de peixe. Mas atenção, não digo isto de uma forma depreciativa, eu próprio já fui um apanhador de peixe, a maioria quando começa, começa por sê-lo. Vamos apenas para apanhar peixe. Depois podemos evoluir, mudar. Eu mudei, comecei a sentir as coisas de outra forma. E porquê? Porque tive quem me fizesse ver que a pesca não é só apanhar peixe. Que na pesca pode e deve haver partilha. Que na pesca pode e deve haver passagem de ensinamentos. Não uma passagem, tipo obrigação, tens de fazer assim como eu faço, mas uma passagem despreocupada, eu faço assim, se quiseres fazer como eu, é assim. Aquele outro faz daquela outra forma e têm bons resultados também, escolhe, experimenta, toma as bases, evolui.
Mas atenção sê sempre um pescador responsável.
Deixo-vos uma frase que o José Afonso me disse no dia em que o conheci pessoalmente:
Um verdadeiro pescador, não gosta de pescar sozinho.