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Re: isca para pescar
Enviado: sexta out 10, 2008 9:24 am
por Ramiro
morcom Escreveu:Há uma coisa que me anda a dar a volta ao miolo, que é na minha zona abunda o mexilhão e nunca vi ninguém a pescar com este isco

eu proprio já utilizei e apenas apanhei ranhosas

e ainda por cima há quem utilize navalha e ameijoa, isco que tb nunca tive grande sucesso mas sei que já houve quem fizesse grandes pescarias e muita gente utiliza e estes iscos não existem por aqui. Isto não contradiz as vossas afirmações???
E para além do que disse o Duarte, a forma de iscar também tem influência, tanto na apresentação como na quantidade.
Re: isca para pescar
Enviado: sexta out 10, 2008 11:11 am
por sargalhão
…e acrescento…
Tudo tem lógica no reino animal. As coisas simplesmente não acontecem por acaso. Existe sempre uma razão para explicar o procedimento dos nossos peixes, só que muitas das vezes não sabemos discernir os porquês. E 99% das vezes as razões encontram-se sob os nossos pés.
E a forma mais eficaz de absorver essas imperceptibilidades é trocando ideias com outras pessoas que até foram capazes de descobrir pequenos nadas que no seu conjunto transforma-se em sabedoria colectiva → cultura
Bem aja os que não se inibem de vomitar os seus pequenos nadas.
…
É verdade sim senhor… Ramiro. O trato que damos à isca já por si só possui 50% de eficácia.
DNN
Re: isca para pescar
Enviado: sexta out 10, 2008 7:14 pm
por karva
Isto está muito interessante. =D>
Aqui vai a minha modesta parte relacionada com o comportamento animal.
Quase todos os comportamentos observados nos animais são adaptativos, fazendo os animais responderem corretamente às circunstâncias ambientais de modo que possam não só sobreviver, como deixar prole. E se assim não fosse, as espécies extinguiam-se
Há duas formas básicas pelas quais um comportamento adaptativo pode tornar-se parte do repertório de respostas de um animal.
Em primeiro lugar, o animal pode ter nascido com as respostas comportamentais corretas préviamente “programadas” no sistema nervoso, como parte das características herdadas das gerações anteriores. Esses comportamentos genéticamente programados são popularmente chamados de instintos e formam como que uma “memória da espécie” transmitida de uma geração a outra.
Por outro lado o instinto leva apenas a procurar e a reconhecer a localização do alimento necessário.
Esse comportamento de dirigir-se correctamente para localização do alimento com base em informações adquiridas durante a vida é o resultado de uma capacidade denominada aprendizagem. Ela faz com que um animal, nascido com poucas respostas herdadas, possa modificar o seu comportamento graças ás suas experiências de modo a melhor adaptar-se ao ambiente, principalmente quando está sujeito a muitas modificações.
Tanto o instinto como a aprendizagem são responsáveis pelo comportamento adaptativo, ambos são o resultado da pressão da seleção natural, seja na história da espécie – no caso do comportamento instintivo – seja na vida do indivíduo – no caso do comportamento aprendido.
A aprendizagem pode ser definida como o processo que se manifesta por alterações adaptativas no comportamento individual como resultado da experiência que adquire durante sua vida.
A primeira característica da aprendizagem consiste em que o aprendido resulta em alterações adaptativas.
Graças á aprendizagem, o animal pode modificar o seu comportamento em virtude das suas experiências à medida que se desenvolve.
Ele aprende que algumas respostas obtêm melhores resultados e isso leva a repeti-las sistemáticamente, modificando o seu comportamento adaptativamente.
A segunda característica da aprendizagem é que ela consiste num processo e, portanto, não pode ser medida directamente, mas apenas o que foi lembrado no decorrer do processo de aprendizagem, e sendo um processo, a aprendizagem obedece a certas regras que, conhecidas, poderiam permitir a sua repetição e manipulação.
Existem vários formas de aprendizagem, sendo aquela que mais nos interessa denominada por Habituação, por
ser o tipo mais simples de aprendizagem, pois ao contrário de outras formas de aprendizagem, ela não implica uma aquisição de respostas novas, mas sim na perda de velhas.
A habituação ocorre quando um animal é submetido repetidamente a um mesmo estímulo que não esteja associado com nenhuma recompensa ou punição. O resultado é que o animal cessa de responder a esse estímulo.
É a habituação que faz com que os pássaros passem a ignorar o espantalho.
A habituação é amplamente distribuída no mundo animal e ocorre desde os protozoários unicelulares até, naturalmente, ao próprio homem. ( até o Homem é um animal de hábitos).
E o que é que se pode deduzir do que foi dito que esteja relacionado com a pesca?
Para além de todos os factores já mencionados nos posts anteriores e até noutros tópicos, julgo que se pode acrescentar mais algumas razões, que levem á compreensão do comportamento dos peixes em determinadas circunstãncias.
Assim deixo para reflexão, estas questões.
Já vos aconteceu alguma vez que numa jornada de pesca tenham começado a sentir uns toques e depois deixarem de sentir picar ou irem deixando de sentir esses toques, embora as condições de pesca sejam muito boas, iguais aquelas que uns dias antes deu uma boa pescaria?
Pegando no que acima foi dito o comportamento animal é básicamente instintivo e de aprendizagem. O mecanismo mais simples de apredizagem é como vimos a habituação, pela qual os animais alteram seus níveis de sensibilidade.
Este mecanismo pode-nos ajudar a explicar suas motivações e é essencialmente uma conduta de alheamento ante os estimulos, a apresentação repetida do mesmo estímulo fá-lo ineficaz, causando a diminuição da intensidade (picam mal) ou inclusivé o desaparecimento da resposta (deixam de picar).
Aplicando estas teorias ao nosso desporto favorito podemos chegar á conclusão de que para conseguirmos mais respostas, isto é, mais picadas/ferragens, devemos mudar o estimulo, isto é, mudar de isca e/ou a forma de a apresentar ou ainda o tipo de isca.
Por isso é muito conveniente não deixar a isca mais de 10-20 minutos na água, (dependerá aqui das condições do mar se forte ou manso, por exemplo).
Quando acontece que depois de uma série de picadas há um período de pausa deveremos mudar o tipo de isca.
Ab
Paulo karva
Re: isca para pescar
Enviado: sexta out 10, 2008 7:39 pm
por aranha
karva Escreveu:Já vos aconteceu alguma vez que numa jornada de pesca tenham começado a sentir uns toques e depois deixarem de sentir picar ou irem deixando de sentir esses toques, embora as condições de pesca sejam muito boas, iguais aquelas que uns dias antes deu uma boa pescaria?
sim já aconteceu, e também já aconteceu o contrario.
para mim á outro factor tambem muito importante...
-
as correntes
um dia estao de norte...outro de sul...elas alteram os fundos de um dia para o outro, mudando o local onde a comedoria se está a depositar e obviamente mudando também o local possivel do nosso peixinho

Re: isca para pescar
Enviado: segunda out 13, 2008 9:33 am
por sargalhão
Iiii….ta… homem, é disto que eu gosto.
Parabéns Karva.
Assim é que é. De um simples tema consegue-se falar profundamente de pesca.
Se tinha algumas suspeitas que aqui existia pessoal com conhecimentos sérios sobre pesca esta demonstração retira qualquer dúvida.
Continuemos…
DNN
Re: isca para pescar
Enviado: segunda out 13, 2008 10:57 am
por Paulo
aranha Escreveu:karva Escreveu:Já vos aconteceu alguma vez que numa jornada de pesca tenham começado a sentir uns toques e depois deixarem de sentir picar ou irem deixando de sentir esses toques, embora as condições de pesca sejam muito boas, iguais aquelas que uns dias antes deu uma boa pescaria?
sim já aconteceu, e também já aconteceu o contrario.
para mim á outro factor tambem muito importante...
-
as correntes
um dia estao de norte...outro de sul...elas alteram os fundos de um dia para o outro, mudando o local onde a comedoria se está a depositar e obviamente mudando também o local possivel do nosso peixinho

Mário se há esse factor para ti, para mim há esse e muitos mais. Penso que a discussão estava centrada no comportamento, porque se achas as correntes são importantes, eu também acho, mas se calhar tão ou mais importante na pesca da costa são também:
A maré (muda de dia para dia), o vento (muda por vezes de dez em dez minutos), a pressão atmosférica, a luminosidade, o ruído, a forma como o mar está a espraiar (por exemplo no surfcasting)... isto só para dar alguns exemplos.
Agora o que podemos fazer é pegar em cada factor e discutir a forma como influencia a pesca, penso que era isso que estava a ser feito, e bem feito, estavam apenas a falar do factor comportamental.

Re: isca para pescar
Enviado: segunda out 13, 2008 4:08 pm
por karva
Viva Paulo
Pois a ideia era essa, para além de outros factores que já tinham sido falados, ia-se acrescentando outros e neste caso fui para o comportamento animal tentando explicar, como as coisas podem acontecer e a necessidade por vezes esquecida de mudar de isco.
Este factor não pretende ser o mais importante, mas sim mais um a juntar a todos os outros.
Quem quiser opinar sobre outros factores, está á vontade.
Ab
Paulo karva
Re: isca para pescar
Enviado: segunda out 13, 2008 4:30 pm
por bloody27
Olá outra vez pessoal
Ainda nao pude experimentar as vossas dicas pois ainda nao fui á pesca desde que pedi ajuda, mas quero agradecer a tds voces pelas dicas

algumas bem mais complexas que eu podia imaginar e começo a ver que existe uma grande cultura nos pescadores que desconhecia totalmente e dessa forma tenho msm mt respeito pelos pescadores =D> . Até agora as minhas explicaçoes para a falta de peixe era as marés e as aguas(turvas ou limpas) mas agora vou tomar mais atenção ás outras questões. Tal como disse o sargalhão a pesca é uma aprendizagem contínua e eu constato isso cada vez que vou pescar. Nada a ver mas este natal compro uma cana de pesca e não peço mais emprestada
