Caro Paulo Rodrigues, e antes de mais devo dizer que é para mim um prazer discutir estes assuntos, mesmo com, e talvez até principalmente, com quem pensa de forma diferente! Respondendo agora...
paulo rodrigues Escreveu:Tenho de salientar alguns pontos:
Como referi e é factual, os achigãs, os alburnos, algumas espécies de barbos ( aqui aceito que minoritárias ) e todas as espécies de carpas ( que não me parece disponham do direito especial a pedir dupla nacionalidade por tempo de residência... até porque, diz a justiça que igual procedimento teria de ser alargado a todas as outras espécies, inclusivamente ás luciopercas que teriam apenas de aguardar que o tempo passa -se ) não são também espécies autóctones.
O que implica que partilham exactamente do mesmo direito moral e ecológico de partilhar as nossas
águas... ou seja, se não queremos umas... também teremos usar a mesma medida para não querer nenhuma das outras espécies em questão.
Quanto ao drama ecológico... surgem perguntas... qual o peixe mais disseminado e que atinge maior número de exemplares e dimensões nas barragens portuguesas... será a carpa? A dieta das carpas varia assim que atinge idade adulta? A voracidade aumenta?... começará também a gostar de alevins de outras espécies?... Os mesmos estudos que apontam para o flagelo de determinadas espécies também demonstram claramente este fenómeno e as suas implicações!
Compreendo este argumento e reconheço logica no mesmo! Se umas podem por que não hão-de as outras poder? Antes demais deixo bem claro que adoro pescar todas as especies e não sou defensor ou inquisidor de nenhuma em especial! Mas, e este mas é muito importante, temos que ver o impacto de cada uma das invasoras sobre o meio em que são introduzidas. As carpas são acima de tudo omniveras e até um pouco oportunistas, podendo sem duvida, e fazem-no, capturar por predação pequenos alevins. No entanto não é essa, de todo, a sua principal fonte de energia calórica, a maioria da alimentação da Carpa é de origem vegetal. E volto a referir que as mesma já coabitam com as especies nativas há mais de trezentos anos sem que isso tenha levado ao exterminio das mesmas! Mais pergunto, e se erradicassemos agora as carpas, não criaria isso um desequilibrio? Já o Achigã, que é um predador não restem duvidas, foi de inicio introduzido com 2 objectivos principais, o seu valor como peixe desportivo, e a necessidade que havia á altura (década de 50 quando foi introduzido no Continente já existindo antes nos Açores) de um predador para os sitemas de aguas paradas onde os nossos predadores nativos, os Salmonideos, não prosperam. Ora essa necessidade de ter um predador nessas aguas continua a existir, agora não existe é necessidade nenhuma, antes pelo contrário, de ter 5 (!!!!) predadores nesses meios! Tal leva a um claro desequilibrio e pressão predativa excessiva sobre os peixes pasto.
Nas grandes barragens e rios espanhóis como o Ebro... não coabitam à meio século... achigãs, barbos, carpas. lucios, luciopercas e até siluros?... que maior prova existirá que o achigã, o lucio, a lucioperca e o siluro já vestiram a seu tempo a pele de lobo... e que as ovelhas continuam lá.
Coabitam pois, mas não, as ovelhas não continuam todas lá! Já pescaste no Ebro? Eu já! E Bogas, Bordalos e Pardelhas são coisas de que apenas só já se contam histórias aos mais novos.
Não variará a opinião de cada pescador de acordo com os seus gostos pessoais?.. Os de achigã querem é que aumente o seu número... os de carpas/barbos/alburnos querem é que estes proliferem e existam com fartura nas competições... os de luciopercas querem que existam mais e pensam na ajuda que um peixe saboroso pode trazer para apaziguar as necessidades familiares em tempo de crise.
Varia pois! Mas agora diz-me lá, se eu decidir que o giro mesmo era pescar Piranhas aqui em Portugal (já foram capturadas em Espanha), dar-me-á isso o direito de as trazer para cá? Pois é isso que aqui se discute, a introdução, proibida, de especies invasivas. E enquanto as Carpas foram trazidas do Oriente nos tempos dos navegadores, basicamente as autoridades responsáveis pelo país na altura, e o Achigã por uma iniciativa conjunta da antiga Guarda Florestal (Autoridade sob alçada estatal) e da predecessora da APPA, as restantes especies que aqui se discutem, como a Lucio-Perca, foram introduzidas clandestinamente. Mesmo por isso não gozam da defesa e proteção que gozam a Carpa e o Achigã.
Logicamente, existem casos excepcionais e peixes que são predadores mais vorazes como a lucioperca... todavia a minha experiência de pescador leva - me a concluir que muitos estudos e palavras bonitas não passam à prática, por exemplo:
Era suposto o achigã ser claramente e há anos..o « lobo »e a carpa ser a « ovelha » em muitas barragens... curioso é que realidade dos anos passados... traduz - se em barragens por vezes quase infestadas de carpas e populações de achigãs muitas vezes residuais.
E porque é que as populações do Achigã são residuais? Não será igualmente por desrespeito, por parte dos pescadores, das leis que o protegem? O que mais estamos, todos nós, fartos de ver e ouvir é autênticos atropelos ao periodo do defeso e á medida minima. Se os pescam ainda pequenos, sem hipoteses de se terem reproduzido, e se os pescam no periodo em que têm que defender a sua prole, se não devolvem um unico peixinho á agua como podem querer que as suas populações sejam estáveis?
Quanto à prática da introdução ilegal... obviamente, sou contra... agora se alguém já as fez ou se o peixe se disseminou através de transvases ou ribeiras e possui valor gastronómico e desportivo...não serei eu que as irei erradicar ou tentar erradicar... porque para isso, registo e reforço... só poderia admitir ( para ser justo e equitativo ) que só as espécies autóctones... os tais « alguns barbos » e peixes de pequeníssimo porte poderiam existir nas nossas barragens.
Então pressuponho pelas tuas palavras que toda e qualquer especie que seja introduzida agora e de futuro, seja ela de que genero for, deve ser deixada em paz? Se alguém introduzir Cascavéis devemos deixá-las ficar porque se fez o mesmo com os Saca-Rabos? Se alguém introduzir Leopardos devemos deixá-los em paz pois foi o que se fez com o Sapo-Pintado? Ou apenas deixamos em paz aquelas que tiverem valor gastronómico? Pois...
Todavia e como já disse é só uma opinião... outros terão a sua... e todos o mesmo direito a opinar, a concordar e a discordar.
E eu volto a repetir que respeito a tua opinião! Ainda que não consiga concordar com ela no que a este assunto diz respeito...