O meu neto é um sábio
Fixei extasiado a imagem de uma floresta de algas laminares, na revista da pesca. Que saudades eu tinha de ver as belas “correias” ondulando dentro de água. A revista trazia um excelente trabalho de investigação sobre as razões da diminuição e do quase desaparecimento dessas algas e as consequências devastadoras dessa ausência sobre a fauna piscícola marítima. Mas ia mais longe. E questionava o IPIMAR sobre as medidas que pensava tomar para uma eventual recuperação.
Nas páginas seguintes, e ainda fruto do diálogo com o IPIMAR, divulgava extractos de diversos estudos científicos sobre a costa portuguesa.
Mais adiante, a revista adiantava dados sobre a qualidade das águas interiores, a partir de estudos efectuados pelo Instituto da Água.
Depois, seguia-se a grande entrevista. Neste número, um dos directores técnicos do Ministério da Agricultura e Pescas falava sobre as questões relacionadas com a pesca desportiva em águas interiores, com realce para a política de concessões e a problemática das espécies exóticas, entre vários outros assuntos actuais.
Continuei a folhear a revista. E corri com o meu neto, que solicitava a minha atenção. “Volta mais daqui a bocadinho que o avô, agora, está ocupado a ler coisas importantes”.
Seguiam-se depoimentos: do presidente da Federação, analisando exaustivamente o último campeonato europeu realizado em Portugal; do director técnico nacional, também sobre o europeu; do presidente da câmara da zona da pista de pesca onde decorrera a prova; e um texto do atleta italiano que vencera a contenda, por sinal bastante elogioso para com as capacidades organizativas do nosso país.
Depois vinham as coisas menores, mas não menos interessantes. Uns artigos técnicos. Um estudo comparativo sobre carretos de surfcasting, com a eleição das melhores escolhas, em termos de qualidade-preço. A página da banda desenhada. A do melhor texto de ficção sobre a pesca, este mês fruto uma colaboração com uma escola de Ovar. Uma pequena entrevista ao pescador-figura-pública do mês (neste caso um actor muito conhecido). As páginas da colaboração dos leitores. Etc., etc.
Foi então que acordei…
Deixara-me dormir no sofá. Mas estranhamente não fora a ver televisão, que estava apagada. Afinal, tinha sido tudo um sonho. E reparei que tinha uma revista no colo. Era a revista da pesca (a real), aberta na página onde uma foto chamava a atenção para a insigne tarefa de cortar a preceito as lulas para iscar o anzol na pesca à corvina.
Lembrei-me do sonho e fiz uma careta. Feia…
Folhei mais duas ou três páginas e o nível da “coisa” mantinha-se no mesmo jaez.
Fechei o pasquim e concentrei-me no preço inscrito na capa. Fiz uma careta ainda mais feia ainda. E balbuciei uma palavra que não vou referir aqui, pois isto é um fórum decente.
Chamei o meu neto. “Anda cá, Afonso, que o avô tem uma coisa para ti”. Dei-lhe a revista mais cara do país. Ele ficou encantado com o grande e colorido peixão que trazia na capa. E eu sorri, ciente que dentro de dez minutos o meu querido Afonso teria já rasgado a “coisa” toda aos bocadinhos, com a perícia e a fúria dos seus dois anitos e meio. É um sábio, este meu neto.
JMET
O meu neto é um sábio
Re: O meu neto é um sábio
Boas amigo!!! Já lá vai um tempinho que não lia uma "Crónica" deste calibre. Obrigado pelo momento de verdade e lucidez. E é tão verdadeira, que bem me apetecia proferir mais uns palavrões, àqueles que o amigo não quiz escrever. Quão sábio e perspicaz é o seu neto. Grande abraço e não pare de "Cronicar"
Re: O meu neto é um sábio
Muito bom mesmo =D> =D> =D>
Re: O meu neto é um sábio
Bravo =D> =D> =D>
Re: O meu neto é um sábio
Boas
Boas pescarias
Boas pescarias
Re: O meu neto é um sábio
Boas pescarias.
, só posso dizer, que fico a aguardar pelo próximo.
Abraço.
Braga
, só posso dizer, que fico a aguardar pelo próximo.
Abraço.
Braga